E o mundo acabou.
Inexplicavelmente, ou sem uma explicação que possa ser dita e entendida.
O mundo acabou, como num instante em que se fechassem os olhos e não se visse sequer o que se vê com os olhos fechados.
(...).
O mundo acabou e nem o tempo prosseguiu.
Os minutos não passavam porque não existiam, como não existiam os momentos ou os olhares.
O infinito era o infinito de não ser nem infinito, nem nada.
A morte não existia no meio de todas as coisas mortas.
Não existiam os cadáveres.
Tinha morrido a memória da morte.
(...).
O mundo acabou.
E não ficou nada.
Nem as certezas.
Nem as sombras.
Nem as cinzas.
Nem os gestos.
Nem as palavras.
Nem o amor.
Nem o lume.
Nem o céu.
Nem os caminhos.
Nem o passado.
Nem as ideias.
Nem o fumo.
O mundo acabou.
E não ficou nada.
Nenhum sorriso.
Nenhum pensamento.
Nenhuma esperança.
Nenhum consolo.
Nenhum olhar.
(José Luís Peixoto- NENHUM OLHAR)
Sem comentários:
Enviar um comentário